Viva Maria, entrevista a socióloga Jacqueline Pitanguy, uma das coordenadoras da organização não governamental (ONG) Cepia [Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação] e autora do livro Feminismo no Brasil: Memórias de Quem Fez Acontecer, em parceria com a também feminista Branca Moreira Alves, que resgata a história dos movimentos e articulações feministas no país.
Na entrevista, a socióloga avalia o legado do livro de Simone de Beauvoir.
“Simone aponta algo fundamental: ela vai fazer análises de mitos a nível de literatura, de cultura e vai ser muito influenciada pelo movimento existencialista, em que seu companheiro Jean Paul Sartre diz que o fundamental é o material, a existência e que combate essa ideia de uma essência que colocaria a mulher nessa posição de alteridade e de subalternidade”, frisou a socióloga.
A obra apresenta a célebre frase: não se nasce mulher: torna-se mulher. O pensamento conceitua o feminino como algo estabelecido culturalmente, e não ligado ao sexo biológico ao nascer. Sobre a frase, Jacqueline entende que pode ter sido a origem do conceito de gênero das pessoas. “Cito que nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade. Na realidade é o conjunto da civilização que elabora esse produto, que qualifica o feminino. Então, Simone de Beauvoir estava claramente dizendo que essa ideia do feminino é uma fabricação”.