Sapateiro leva arte para o samba no pé da Sapucaí

Cultura

Carnaval é sinônimo de folia, alegria e muito samba… E um profissional essencial para manter o samba no pé é o sapateiro.

Pedro Alberto começou a fazer sapatos ainda criança. Ele veio de Juiz de Fora para o Rio com 15 anos. E até hoje faz de forma artesanal os sapatos que percorrem a Sapucaí, sobretudo os das passistas e das rainhas de bateria.

“A gente primeiro se preocupa com os pés das pessoas porque nós somos os únicos que fazemos esse tipo de sandália. Ela é feita sob medida. Na sola, leva um pneuzinho, é bem reforçada, então tem pessoas que já têm sandália nossa 2, 3 anos. Às vezes até mais. A gente vai fazendo aquilo que pode, cada vez melhorando mais.”

O mineiro Pedro Alberto tem 75 anos e se emociona ao contar como tudo começou.

“Uma senhora me conheceu no ponto do ônibus, eu levava almoço pro meu pai. Aí ela pediu pra levar almoço pro marido dela nessa fábrica de sapato. Minha mãe autorizou, aí passei a levar almoço pro marido dela. Daí comecei a ganhar meu dinheirinho. E fui olhando aquele negócio da fábrica de sapato e fui gostando.”

Desde então, o sapateiro não parou mais e poucos anos depois já mostrava que nasceu para o ofício. Mas relembra que teve tempos de trabalho pesado…

“Já tive fábrica grande. Fazia uma base de 2, 3 mil pares pro carnaval. Num mês, né. Hoje, não. Hoje a gente faz pouco, porque também é mais personalizado o nosso trabalho. Trabalhava muito, muito mesmo.”

O sapateiro revela como o carnaval entrou na sua vida.

“A gente era do Cacique de Ramos. Lá, eles precisavam de uma sandalinha, eu comecei a fazer e já comecei a entrar no carnaval. Depois passei a trabalhar pra Portela, fazia muito sapato.”

A média de sapatos produzidos por semana fica entre 70 e 80 pares. Pedro explica quais são os diferenciais do seu produto.

“Tem que ter uma boa palmilha, pra montagem. Depois vem com a plataforma. Nós fabricamos a nossa plataforma. Se a pessoa quer um salto mais alto ou mais baixo, a gente faz.”

O sapateiro fala qual é o modelo preferido das sambistas.

“É difícil falar porque nosso modelo vende muito. Hoje tem também a Mayara Lima. Ela bota no pé e é uma febre.”

O sapateiro conta com uma ajuda especial no eu dia a dia: a passista e assistente Zaira Cancino. Ela cuida da parte burocrática do negócio com muito samba no pé.

“Hoje eu faço de tudo. Praticamente dar suporte pro seu Pedro, num controle de organização das encomendas que chegam, tanto de pessoas nacionais quanto internacionais, porque a gente também exporta sandálias pra outros países.”

A ginga e o jogo de cintura de Zaira são de longe. Ela veio para o Brasil pra aprender a sambar.

“Eu sou mexicana. Cheguei no samba, sem conhecer, fui me aprimorando, entrei como passista, me encantei.”

Sambar de salto pode causar tendinites, entorses, dores no joelho e na coluna, além de aumentar as chances de quedas e torções. Por levantar demais o calcanhar, o sapato alto faz com que o peso do corpo se concentre na parte da frente do pé, o que causa dores.

Mas quem não abre mão do salto no carnaval deve alternar modelos altos com os mais baixos.

Outra dica é colocar os pés de molho em água morna com sal grosso para descansá-los depois da folia.

 

*Esta reportagem faz parte da série sobre trabalhadores que fazem o carnaval das escolas de samba na Sapucaí. Confira o que mais já foi publicado:

Diretor de barracão comanda “fábrica” de escolas

Operários da Sapucaí: os artesãos do Norte que “constroem” o carnaval

Fonte-Agência Brasil

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