Osmar Álvares de Macedo nasceu no dia 22 de março de 1923. O soteropolitano, que tinha uma mente criativa, desenvolveu ferramentas para a área da construção civil e projetos grandiosos. Mas nem imaginava que ficaria famoso por inventar o trio elétrico na companhia do amigo Adolfo Nascimento – mais conhecido como Dodô. O músico e instrumentista Armandinho Macedo, filho de Osmar, conta essa história pra gente.
“E agora trazer isso numa comemoração de cem anos, de aniversário. Mostrar para o público tudo que ele representou, tudo que ele fez – não só no carnaval, no trio elétrico, mas a vida dele, né? Como metalúrgico, como da construção civil. Ele passou a ser um ‘resolvedor’ de problemas da construção civil. Ele até falava isso no currículo: ‘eu fiz todas essas obras, tanta maquinária, tanta coisa, mas vocês só me conhecem por aquele invento que eu e Dodô fizemos pra brincar, pra tomar uma cachacinha’, ele ainda brincava com isso”.
“Então tudo isso ele levou pra rua, ele levou para esse conjunto que eles deram o nome de trio elétrico – porque o nome do conjunto, na verdade, é que era Trio Elétrico. No trio só saía ele e Dodô. Nunca teve um terceiro no Trio Elétrico com eles. Eram só os dois. E o nome que pegou porque trio elétrico era o que tinha na época, era o que fazia sucesso, né? Trio Iraquitã… eu sei que o nome pegou e generalizou, né? Passaram a chamar todos os outros de trio elétrico, que era o nome do conjunto deles”.
Para quem é filho de Osmar Macedo, a emoção neste centenário é ainda maior. O que vem na mente é uma história construída com afeto, admiração e contribuições para a vida pessoal e profissional. Armandinho diz que sente a energia do pai até hoje.
“mas a coisa mais interessante que a gente fazia e que fizemos até quando ele pôde se manter no palco tocando, era o ‘desafilho’ – um número que ele criou, que era o desafio de pai com o filho. Ali é no estúdio, aquilo diante do público era uma loucura. Ele botava pra quebrar, porque ele fazia os malabarismos dele, né? Botava nas costas, tirava a camisa, cobria o instrumento com a camisa e tocava… esse número aí pra mim foi o que ficou mais marcante nos nossos encontros no palco tocando”.
O administrador José Renato Carneiro também é músico e bastante conhecido entre os artistas do carnaval da Bahia como Renatinho Tapajós. Ele é amigo de Armandinho e conta que teve a oportunidade não só de conhecer Osmar Macedo, mas também de acompanhar a mudança no carnaval da Bahia a partir da criação do trio elétrico.
“Quando eu fui convidado pra tocar no trio elétrico Tapajós, em 1974, fazia exatamente 24 anos da criação do trio elétrico. Só que o trio elétrico do Osmar não estava no cenário nesse momento. Porque, como todos sabem, Osmar inventou trio elétrico e algum tempo depois, não sei se três ou quatro anos, ele parou. Naquela época, o trio elétrico era instrumental, não tinha cantor no trio elétrico, né? Então eu acompanhei esse processo de transformação da música baiana a partir do momento em que, em 1975 – ou seja, um ano depois que eu cheguei no no trio elétrico Tapajós -, para comemorar o Jubileu de Prata da fundação do trio elétrico, houve todo um movimento aqui em Salvador para a volta do trio elétrico do Osmar. E assim aconteceu. Em 1975, o trio elétrico Dodô e Osmar volta assim, triunfante, né? Inclusive já com o disco Jubileu de Prata – e foi aquela revolução. E trouxe também como novidade a presença de Moraes Moreira cantando. Um marco realmente”.
São muitas as histórias curiosas que marcam o processo evolutivo do trio, desde a sua primeira versão em 1950, com a fubica, até chegar a uma caminhonete e um caminhão. André Macedo, cantor e filho de Osmar conta que houve um momento em que o trio quebrou e concluiu o trajeto empurrado pelo povo.
“Em 1950, Avenida Sete, era o corso dos grandes clubes carnavalescos da elite, né? E o povo ficava mais lá para o lado da Praça da Sé, rua Chile, descendo a Barroquinha. E quando meu pai chegou, ele não pôde ir pra Avenida Sete, dos clubes carnavalescos, então foi para a rua Chile. E aí foi aquela loucura, o povo já atrás da fubiquinha. Eles resolvem subir a ladeira de São Bento e aí tumultuou tudo. Inclusive meu pai conta que o motor, a embreagem da fubica já tinha quebrado. Aí meu pai preocupado, ‘Olegário, pára o carro, Olegário’… ‘não, seu Osmar, já quebrou, já quebrou tudo, quem está empurrando é o povo’. Quer dizer, o povo levando. Então foi aquela aceitação popular, né? Do trio elétrico. Isso mudou a história do carnaval da Bahia”.
E é justamente para valorizar este ano do centenário que os filhos de Osmar fizeram questão de tocar três dias no Campo Grande. É o que revela o vocalista da banda André Macedo:
“É centenário do Macedão e vai ser o tema da gente no Carnaval. Vai ter centenário de Osmar Macedo, vamos fortalecer mais, que está precisando, o carnaval do centro. E a gente fez questão de sair mais dias esse ano no centro para fortalecer isso, né? Porque o centro é a casa de Dodô e Osmar”.