Prefeito de São Paulo aposta na centro-direito para reeleição

Política

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), vai completar dois anos no cargo — assumiu depois da morte de Bruno Covas, em maio de 2021 — e até hoje convive com o desconhecimento da população. Na virada do ano, ele foi encorajado por aliados a investir numa agenda para reverter a imagem de falta de carisma e viabilizar um voo eleitoral em 2024. A estratégia do seu grupo político é ocupar o espaço vago no campo da centro-direita da maior cidade do país. 

Se a campanha eleitoral fosse neste ano, o eleitorado conservador e liberal não teria um nome claro para a provável disputa contra a esquerda. Os poucos lembrados são o deputado Ricardo Salles (PL) e o ex-deputado Vinicius Poit (Novo), que concorreu ao governo de São Paulo.

No MDB, é sabido que o atual prefeito não terá chances de vencer a disputa sem o apoio formal do governador Tarcísio de Freitas. Além disso, o principal articulador do governo estadual, Gilberto Kassab, do PSD, pode resolver indicar um nome da legenda para concorrer ao pleito, o que diminuiria suas chances. Desde que Tarcísio tomou posse, tornou-se cena recorrente a presença de Nunes em agendas conjuntas com o governador.

O prefeito Ricardo Nunes e o governador Tarcísio de Freitas, em evento no Palácio dos Bandeirantes | Foto: Divulgação

Enquanto isso, aliados mais próximos tentam buscam um “verniz” conservador para o prefeito. O objetivo é conseguir unidade em torno do nome de Nunes para disputar a reeleição à prefeitura contra o candidato natural da extrema esquerda, Guilherme Boulos (Psol), eleito deputado federal.

Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Boulos tem o aval da esquerda, depois que abriu mão de concorrer ao Palácio dos Bandeirantes para apoiar Fernando Haddad (PT). Ele também foi aconselhado a mudar de roupagem — leia-se: deixar a imagem de invasor de propriedades no passado. Com isso, terá o presidente Lula como principal cabo eleitoral.

Para Nunes herdar o posto de candidato pela centro-direita, a grande aposta é no tema mais sensível para o paulistano: a Segurança Pública. O prefeito já anunciou a intenção de instalar, até o final do mandato, cerca de 20 mil câmeras pela cidade, com inteligência artificial, capazes de identificar criminosos e aumentar a segurança nos principais pontos do município. O projeto foi alvo de críticas por deputados do Psol.

A cracolândia, outro tema caro ao paulistano, também está no radar de Nunes. Ele conta com a força-tarefa e a vontade do Estado para porem fim, de uma vez por todas, ao problema, que se arrasta há três décadas. Por isso, o gestor disse não “medir esforços” para recuperar o centro, o que o torna alvo de críticas constantes pelo “abandono” da região.

Para 2023, a sinalização é que o prefeito irá priorizar projetos com potencial para turbinar sua popularidade a tempo da disputa pela reeleição. Nunes tenta ajustar o discurso, lançou obras e projetos de zeladoria pela cidade, além de investir mais em entrevistas na mídia tradicional e aparições públicas. Para isso, ele não mede esforço, nem dinheiro. 

Nunes tem nas mãos um Orçamento de R$ 96 bilhões para este ano, 16% maior na comparação com 2022, fruto de um aumento da arrecadação tributária em função da alta da inflação. No ano passado, a prefeitura destinou R$ 8,8 bilhões para investimentos em políticas públicas, com destinação prioritária aos bairros periféricos — o maior valor da história. Em 2023, Nunes já separou R$ 11,5 bilhões.

“São Paulo está com uma saúde financeira muito boa”, diz o prefeito, que por dois mandatos foi membro da comissão de finanças da Câmara Municipal — foi vereador pela primeira vez em 2012. Aliados admitem que Nunes “conhece como poucos” os meandros do orçamento municipal.

A cidade de São Paulo, contudo, só executou 25% dos investimentos previstos para o ano passado. Esse é um desafio para o prefeito, que põe a culpa no Tribunal de Contas do Município, por emperrar as licitações que precisaram ser refeitas pelo Executivo municipal.

Dinheiro, dinheiro e dinheiro

“É o maior programa de recapeamento da história da cidade.” Foi assim que, ainda em junho de 2022, o prefeito anunciou um megainvestimento para recuperar as ruas da cidade. A previsão é despejar R$ 2,5 bilhões até o fim de 2024, ano em que Nunes vai tentar a reeleição.

Ele espera que esse esforço ajude a pavimentar o caminho para o segundo mandato. “Nós vamos seguindo daqui até o fim de 2024 sem parar”, disse. O prefeito, no entanto, sabe que a zeladoria ainda é insuficiente. 

A principal aposta de Nunes para a reeleição é na área habitacional. Serão R$ 4 bilhões para ações e programas habitacionais na capital. Esse é outro grande investimento classificado como “o maior da história de São Paulo”. Isso é para tentar minimizar as críticas. Entre 2020 e 2021, foram entregues quase 9 mil unidades habitacionais, ou 5% do total das mais de 165 mil inscrições ativas à espera de uma moradia definitiva.

Articulador discreto

Para os políticos que estão no entorno do Executivo municipal, o prefeito está no caminho certo, desenvolvendo ações que vão chegar aos quatro cantos da cidade. “Ele tem uma gestão diferente da de Covas”, disse o vereador Rubinho Nunes (União Brasil). “O Ricardo, por ser vereador, tenta trazer uma relação de proximidade e diálogo constante com a Câmara.”

Apesar dessa capacidade de articulação política, o vereador admite que o prefeito não é uma pessoa conhecida na cidade. “Ele tem realizado o mandato voltado para a administração dentro do próprio gabinete e deixa de lado o aspecto publicitário, político”, observou. “Como consequência, acaba menos conhecido.”

Uma pesquisa encomendada pela gestão municipal revelou que mais de 60% dos paulistanos avaliam a administração municipal entre “ótima e regular”. No entanto, o governo sabe que há uma distância significativa entre a avaliação da prefeitura e a figura do prefeito.

Outro que avalia positivamente o trabalho do gestor municipal é o deputado federal Delegado Palumbo (MDB), que deixou a cadeira no Legislativo municipal depois de ser eleito para a para a Câmara Federal. “Ricardo Nunes é extremamente trabalhador”, destacou. Para ele, no entanto, o prefeito precisa “pensar mais na cidade”, e “não agradar a políticos que estão aí há anos”. O deputado se referiu, principalmente, ao presidente da Câmara, Milton Leite.

A força política de Leite ajudou a turbinar o orçamento municipal destinado às subprefeituras neste ano, avaliam os parlamentares. O recurso aprovado no Legislativo para custear as despesas e os investimentos em 2023 aumentou 16%, chegando a R$ 1,45 bilhão, para 32 subprefeituras. O maior acréscimo foi para Parelheiros, distrito no extremo da zona sul da capital e reduto eleitoral de Milton Leite. A verba reservada para a região saltou quase 50% após passar pelo Legislativo.

Outro vereador que acompanha de perto o trabalho de Nunes é o Major Palumbo, que assumiu uma cadeira na Câmara em meados do ano passado. “É um prefeito que não para”, resumiu ao elencar diversos projetos direcionados à população. “Ele tem tudo para brigar por uma reeleição.”

O jeito é “divulgar”

O prefeito ainda enfrenta uma grande dificuldade com a “cara” da sua gestão. Entre correligionários, há a impressão de que as ações de Ricardo Nunes não têm a repercussão pública necessária. Por isso, a decisão foi gastar para divulgar. 

Em dezembro do ano passado, a prefeitura publicou um edital para contratar uma empresa para prestar assessoria de comunicação no município. O contrato prevê o gasto de R$ 20 milhões para o serviço ao longo de 12 meses. Entretanto, a Justiça paulista suspendeu a concorrência, alegando que o município já dispõe de tal serviço.

Paralelamente a isso, Nunes está dando a “cara” na tentativa de criar uma agenda positiva, recheada em promessas. Na segunda-feira 23, foi o entrevistado do programa de entretenimento Morning Show, da rádio Jovem Pan. 

Com uma imagem menos sisuda, tentou “vender” a sua gestão. Nunes admitiu que ainda precisa divulgar mais o trabalho. “Nós colocamos a saúde financeira da cidade num patamar elevadíssimo, com uma capacidade de investimento muito alta, até por isso que eu estou conseguindo inaugurar muita coisa”, disse. “Eu só não estou conseguindo comunicar muita coisa”, completou o prefeito. Ele aproveitou o gancho para acrescentar que atualmente a cidade de São Paulo está com 1,3 mil obras em andamento, “com muitas na periferia”, disse. Essa é uma estratégia adotada pela gestão para se aproximar do eleitor que vive em áreas com os piores indicadores de vulnerabilidade do município.

Ricardo Nunes terá menos de dois até às próximas eleições para dar uma “cara” ao seu mandato e se tornar conhecido pelos paulistanos. Nesse meio tempo, terá de fazer as articulações certas para garantir os apoios para impedir o crescimento da esquerda. Dinheiro, Nunes sabe que não falta.

Ricardo Nunes passou a dar mais visibilidade ao trabalho realizado na gestão municipal | Foto: Divulgação

Leia também: “Esquerda decadente”, reportagem publicada na edição 126 da Revista Oeste



Fonte-R7

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *