A Copa do Mundo tem se mostrado especialmente desafiadora para os jogadores na marca da cal. As cobranças de pênalti, antes consideradas “quase um gol” em outras edições, têm se tornado cada vez mais desafiadoras no Catar, e não por acaso. Dados do Grupo de Estudos Técnicos da Fifa revelam aumento considerável no número de penalidades desperdiçadas em 2022, em comparação com o Mundial da Rússia, há quatro anos.
Mesmo com novas regras em relação a 2018, como o goleiro ser obrigado a manter pelo menos um pé na linha antes de saltar, subiu de 25% para 34% o número de penalidades defendidas pelos arqueiros (tanto no tempo normal quanto na disputa de pênaltis após a prorrogação).
O R7 ouviu o ex-atacante Luizão, pentacampeão com o Brasil em 2002, e o preparador de goleiros do Santos, Arzul, para tentar entender o que tem tornado a vida dos batedores ainda mais difícil na Copa do Mundo do Catar. Para ambos, o lado psicológico é essencial para tentar entender a queda no aproveitamento de quem vai à marca da cal.
“Tudo isso (pressão, nervosismo etc.) influencia. É muito complicado você ir bater um pênalti, principalmente numa Copa do Mundo. Bater um pênalti é uma das coisas mais difíceis que já enfrentei na minha vida”, diz Luizão, ex-atacante da seleção.
“Para mim, num jogo como esse, o fator mental é o principal. Como os jogadores e os goleiros chegam às cobranças de penalidade, acho que é o principal”, afirma Arzul.
Alisson X Livakovic
O preparador de goleiros também explicou a diferença entre Alisson e Livakovic, goleiro da Croácia, no momento em que a partida entre Brasil e croatas vai para as penalidades, com resultado favorável aos europeus. Novamente, na análise de Arzul, o psicológico falou mais alto.
“Gerou-se uma pressão forte pro Alisson. A forma como ele toma o gol, com bola desviada, não teve reação. Já volta também a imagem da Copa passada, do chute do De Bruyne, em que a bola estava ‘escondida’, e ele só vê quando estava em cima dele. Tudo isso vai para cabeça do Alisson. Existe o treino, o estudo, tudo certo, mas o fator mental nesse momento, a forma como você está indo para as penalidades, é fundamental”, diz Arzul.
“O Brasil tomou gol faltando quatro minutos. Então o cara fica com uma pressão enorme. Em contrapartida, o goleiro da Croácia chega sem pressão nenhuma. Uma porque ele está na Croácia, não tem a mesma pressão do Brasil, e outra porque ele acabou de empatar um jogo absurdo. Chega gigante, leve, chega solto”, complementa.
Evolução dos goleiros e preparação
O preparador de goleiros explica que, no futebol de alto nível, a análise de desempenho levanta tudo sobre os batedores de pênalti do adversário, mas o fundamental, além de buscar saber como o jogador bate na bola, ou seu canto preferido, é entender o contexto da partida em que o atleta está inserido na hora da tomada de decisão.
“A gente procura pesquisar qual o momento em que o jogador bateu, como que estava a partida. Por exemplo, um jogo está 1 a 0, faltando cinco minutos para acabar, ele é obrigado a empatar, e cobra no lado direito, por exemplo. A gente sabe ali que aquele canto é o escolhido para o pênalti de segurança. O contexto do jogo diz muito. É o principal fator a se estudar”, revela o preparador do Peixe.
Além da preparação antes do jogo, fica cada vez mais evidente que o preparo físico do goleiro também evoluiu. “Hoje o goleiro melhorou muito em termos de potência. Então ele sai muito mais rápido. Você pode ver que, às vezes, o goleiro até passa da linha da bola, quando o cara defende uma penalidade, porque ele está muito potente”, diz Arzul.
“Os goleiros estão muito mais ágeis. Muito rápidos. E os jogadores estão querendo bater muito bonito, sabe? Muito estiloso. Aí eles batem fraco, e o goleiro ágil chega na bola mais rápido. E eles estudam os jogadores, né. Essa é a minha opinião, acho que os jogadores querem bater bonito, e o goleiro quer pegar de qualquer jeito”, afirma Luizão.
Quem vai ser o artilheiro da Copa? Seis atletas ainda estão na disputa