Podcast: Ep 4 – MC Who destaca que o Hip Hop se une pela mãe África

Cultura

EPISÓDIO 4 – MC Who 

Sobe som 🎶 Rappers Delight, de Sugarhill Gang  

 Vinheta: Dos griôs da África para as periferias do mundo: 50 anos de Hip Hop 

 DJ Who: O Hip Hop era muito assim “Ah, vocês estão imitando os americanos”. Depois, com esse, essa trajetória que eu tive de pesquisa, vi que aconteceu na cena black do Rio, onde tinha discussão da turma do Tony Tornado e Gérson King Combo com os sambistas. E a gente também passou por um processo parecido. E, depois, com essa possibilidade de se organizar, né, principalmente intelectualmente, eu, com toda essa possibilidade de troca de informações com outros praticantes do Hip Hop, chegou à conclusão do seguinte: não existe essa questão, porque nós somos o mesmo povo diaspórico. Nós passamos pelas mesmas trajetórias de opressão. Quer dizer, o Hip Hop não pode esquecer que ele tem uma mãe. A grande origem do Hip Hop é uma mãe, né, que é a mãe África, é o processo diaspórico. Que eu não gosto, eu sou mais para o lado do Joel Rufino, eu falo que é o deslocamento do corpo preto escravizado. Porque a diáspora é uma questão heróica, da travessia de um deserto e tal, diasporos, espalhar semeando. Não, nós viemos pra cá trancado, nossos antepassados, o meu e o seu, né, Daniel? Viemos trancados. Então, a gente tem que entender que isso marca essas questões todas, dos apagamentos históricos e tudo. 

 Sobe som 🎶 O Credo

 “Você vai crer que há o que não se pode ver 

Que existe algo que não se pode ter 

O que acha daquilo que você pode ler 

O que importa essas palavras, você vai entender” 

BG 🎶 

Daniel Mello: Quando recebeu o convite para gravar um disco, MC Who pensou que estava diante da realização de um sonho. Mas a importância do projeto que viria a se tornar o vinil Hip Hop Cultura de Rua ultrapassou as projeções daquele jovem periférico, que trabalhava de office boy. As oito faixas que vieram a público em 1988 são hoje lembradas como a primeira gravação da cultura Hip Hop no Brasil. 

 Sobe som 🎶  O Credo 

 Daniel Mello: Eu sou Daniel Mello, jornalista da Empresa Brasil de Comunicação. Chegamos ao quarto episódio do podcast sobre os 50 anos da cultura Hip Hop no mundo. Na conversa com MC Who, o pioneiro fala da cena dos anos 80 e do combate às opressões proporcionado pela cultura Hip Hop. Gravamos em outro templo a céu aberto do Hip Hop em São Paulo: a Praça Roosevelt. 

 Sobe som 🎶  

Daniel Mello: Hip Hop Cultura de Rua, a primeira coletânea do gênero feita aqui no Brasil. MC Who, conta um pouco pra gente como é que foi essa história. Era pra ser antes um disco da sua banda, do Credo, era isso?  

 DJ Who: Opa, tô vendo que você pesquisou bem aí. É isso mesmo. A gente teve a sorte de ser protagonista de uma foto de capa na época do Jornal da Tarde, né. E, nas andanças nas gravadoras, o Wagner Garcia, diretor da Eldorado na época, recém-chegado, viu e perguntou: “Você é poeta da rua?” Eu achei engraçado, né? Eu falei: “É, a gente faz poesia na rua”. Ele falou ‘que legal’, começou a conversar comigo, perguntou se tinha letra, o que a gente tinha pronto e disse: “Me dá uns dois dias que eu vou falar com o chefe”, né. E aí foram os dois dias mais longos da minha vida, né, esperando essa resposta. Até que veio a resposta positiva. Imagine, né, um cara que era office boy, de periferia, pais migrantes, né, operários, e falar: “Vou gravar um disco”. Sendo que a gente não era cantor, não era nada disso. E assim começa a história, né. Ele se transforma numa coletânea, numa perspectiva muito da cultura Hip Hop, já estar se constituindo no movimento Hip Hop. Primeiro ele é uma cultura, uma cultura gigantesca, produtiva, criativa e dinâmica. E o movimento é organização política, quer dizer, isso já veio de lá, o mito de origem da cultura Hip Hop está em 11 de agosto de 1973, com a festa que a Cindy Campbell junto com o seu irmão Kool Herc desenvolveu. E, um ano depois, o Africa Bambaataa pega e inaugura a Zulu Nation que é para você organizar isso de uma maneira sistemática, e ter uma proposta, né, de acolhimento daquelas manifestações que aconteciam na rua, e também de se posicionar politicamente, que ali era uma efervescência na década de 70. Nós temos ali, já pós-ações afirmativas, Black Panthers, né, Black Explotation, quer dizer, todas as manifestações culturais apontando para essa autonomia, esse protagonismo do corpo preto, né. Então, a gente já tinha essa carga, essa provocação transgressora da cultura. Então, dialogando muito com o punk, que era um pouquinho mais velho que a gente, a gente disse: “Uma coletânea contempla todo mundo, e aí todas as gangues vão aparecer”. 

Daniel Mello: E como o Hip Hop evoluiu nos dias atuais? 

  DJ Who: Eu pratico Hip Hop, e todos nós que dividimos e compartilhamos toda essa perspectiva do Hip Hop, é que a gente tem os quatro elementos. E aí vem o quinto sugerido, que algumas pessoas aceitam ou não. Por exemplo, o Hip Hop que eu estou praticando hoje com as novas gerações, ele tem de 14 a 16 elementos sistematizados. Os tradicionais, os viajantes do tempo, que a gente precisa reconhecer, como a moda e o boombox, né, e os complementares, que foi o que as novas gerações trouxeram. Isso está na referência da permanência e do aprendizado das novas gerações para que a cultura não pare, que ela se renove, se perpetue. E essa questão intergeracional é fundamental, que a velha escola e a nova escola dialoguem, aprendam um com o outro e que a gente, mais antigo, saiba acolher essas novas gerações para que a nossa cultura não tenha um fim, que isso mantém ela dinâmica e infinita.  

Daniel Mello: Além de arte e cultura, você vê o Hip Hop como alternativa social para a juventude? 

  DJ Who: O Hip Hop é a grande escolha, né. As gerações antigas, elas tiveram algumas escolhas, mas o Hip-Hop, ele ocupa um espaço de escolha quando ele dialoga principalmente com os territórios de educação no Brasil, que é uma luta nossa agora nos 50 anos: a arte e a cultura juntas dentro das escolas. Ela vai trazer tanto um sopro, uma qualidade de vida na fala e na escuta, na possibilidade da identificação do outro, um com o outro, conviver, acolher, outro e outra, e outres, né. A gente precisa estar dialogando com as novas gerações e isso você faz na escola, isso você leva a informação. De você trazer da história tradicional, você conseguir oferecer para essas novas gerações quem foi o Zé do Patrocínio, o André Rebouças, né, apagados pelas mitologias das princesas e tudo, né. Então, é, a gente precisa entender os processos para a gente também construir nosso sentido de pertencimento, de identidade, né, reforçar a identidade. Black is beautiful, continua lindo, todo mundo agora usando as mulheres como suas coroas, nós usamos nosso, né, eu, falta um pouco aqui, mas sempre que tive, mantive o meu black power em dia. Então, é isso que a gente tem que dizer da cultura Hip Hop, que ela é uma cultura contemporânea, com muito compromisso ainda, longe de messianismos ou caricaturas, ela é séria, ela acolhe a juventude, oferece a possibilidade da construção do senso crítico, né, na melhor forma de Paulo Freire, certo? Que ele, Paulo Freire, reconheceu o Hip Hop. Quando ele é secretário da Educação da Erundina aqui em São Paulo, ele leva o Hip Hop para dentro das escolas, né, remetendo lá a Caicó, né, aquela coisa de questionar as palavras, dentro daquela pedagogia respeitada no mundo inteiro até hoje, não é, Daniel. 

Daniel Mello: Falando de história, muito se fala da São Bento aqui no centro de São Paulo, da importância que tem para o Hip Hop, da rua 24 de maio, mas e a Praça Roosevelt também tem um papel nessa história, né? Queria que você contasse um pouco como é que essa praça se insere na história do Hip Hop e como é que o Hip Hop ainda está aqui. 

DJ Who:Perfeito! Daniel, essa pergunta é importante porque ela dá espaço para a gente lembrar de grandes figuras que não estão mais com a gente, como o J.R .Brown, o Marcos Tadeu Telésforo, grande letrista, DJ Uzi, autodidata na língua inglesa, ele traduzia tudo para a gente entender o que estava acontecendo. E o J.R. Brown era um visionário, era um cara que tava na frente do tempo. Nós éramos amigos, andávamos juntos, né, dividindo tudo da potência, da coisa. A gente não ficava só nas equipes de baile, apesar de a gente gostar também, a gente andava nas outras casas, lidava com outras tribos. E a gente entendia que o Hip Hop estava num caminho que era crescente, que ia ficar muito grande. São Bento já não suportava mais. E ali tudo adolescente, né, tudo muito, né, os hormônios, aquela coisa, tinham as questões de protagonismo mesmo. Então, o break, né, que era a grande atração, ele começa a dividir essa atenção, né, e por uma característica muito simples, porque o break precisa do corpo para se expressar, né, e o rapper ele fala, né. Então, acabava que a gente conseguia fazer uma leitura e passar isso, e tal, e acabou que esse protagonismo das lentes também levou muito a essas discussões. E, também, principalmente, enquanto tinha a roda de break, os rappers ficavam batendo na lata do lixo, que era a nossa bateria eletrônica, e cantando as suas novas letras, às vezes, até improvisando ali, e isso teoricamente atrapalhava. Muita gente fala que é uma briga, não é, foi uma tensão de espaço. Aí o JR falou assim: “Who, pega os meninos aí, vamos subir para a Roosevelt, que lá a praça é só nossa, só do rap, e a gente vai tocar isso lá”. E aqui é um dos grandes berços do rap nacional, talvez o maior, mas a gente ainda tem muito a pesquisar, os outros territórios, 26 estados mais o DF. Mas aqui a Roosevelt já passou aqui, começando com Racionais, que eram esses mais novos que estavam com a gente. 

Daniel Mello:: E continua essa cultura viva aqui?  

 DJ Who: Continua, é muito legal. Na época, a Roosevelt tinha dois andares, depois ela sofreu uma reforma forte, e hoje ela é essa praça mais plana aqui. Lá na outra ponta da Roosevelt, que dá pra ver o caminho pra Radial Leste, ali acontece o Slam Resistência. O slam, na nossa percepção, é uma manifestação da cultura Hip Hop, inspirada pela cultura Hip Hop também. E também tem a batalha de rima aqui, né, ela já foi, já voltou, mas ela está sempre aqui, dialogando com o skate, que também é algo que complementa a semiótica da nossa ocupação da rua, né. Então, às vezes eu brinco que o Sabotage está dando bronca em todo mundo, dizendo: “Eu não quero ficar sentado sozinho aqui nesse Abu Simbel nosso aqui, nesse panteão. Cadê o J.R. Brown? Cadê o Uzi? Cadê todo mundo? Né? Conhecedor que a gente tem da personalidade dele, ele não… Porque passa por essa coisa da validação, do establishment. Quando a mídia, ou alguém famoso, no caso do Cartola, no caso do Donga, você sabe, né, eles precisaram ser validados pelo jornalista branco, ou burguês, ou culturalmente mais avançado. Esses precisam estar sendo trazidos, porque eles foram muito importantes. 

Daniel Mello: E o seu contato com o Hip Hop como é que ele aconteceu?  

DJ Who: Contato foi com a música primeiro, né, que eu tenho vários irmãos mais velho, meus tios, que tinham muito disco, até hoje eu tenho esse hábito de manipular os discos. Desde pequeno eu tive disco em casa, tive disco desde Luiz Gonzaga, ou Saraiva, né, esses instrumentais que o meu pai ouvia, até as coisas mais contemporâneas pra época dos meus irmãos, como Caetano Veloso, Gal Costa, todos esses e vários outros que foram chegando, e tal, mais alternativos. Aí eu entendi que a música era muito além do que aparecia na televisão ou nos jornais ou nas revistas, né. Tinham coisas alternativas ali, né. Depois chega a black music tanto no colégio quanto dentro de casa também. Eu fui entender que o Tim Maia era black music e tal, entender tudo aquilo e também da nossa identidade. Porque, apesar de eu ser, de a gente ser mestiço, a gente queria se identificar com a questão cultural e a música me fez entender que eu era um homem preto. Muita gente desestimulava isso, “ah, você não é tão preto”. Hoje a gente sabe que é o tal do colorismo, e tal, mas na época, isso, eu falava, não, tudo que eu faço é coisa de preto. Então, quando no começo dos anos 80 começa a chegar as primeiras referências da cultura Hip Hop, cultura de rua, que estava acontecendo nos Estados Unidos. Então, tem, por exemplo, desde um vídeo do Chique, a banda Chique, Rangin’ Out, que mostra o garoto quebrando, né, no breaking, no popping e o boombox ali, então tinha um cenário, não, eu falei “quero fazer isso”, né. Como todo adolescente, quer ter isso, né, quer ter essas identidades. Depois tem um monte de artistas pop que foram usando elementos da cultura de rua como break, como Lionel Richie, aí veio vindo e tal. Mas eu penso e proponho que o Beat Street, que foi lançado no Brasil como Loucuras do Ritmo, ele seja o grande, apesar de ser uma alegoria bobinha, né, dum caso de romance e tal, mas ele já mostra ali como que funcionava a cultura pra nós.   

Daniel Mello: Eu queria falar também sobre o Credo, que era a sua banda, no início, né? Você falou das letras politizadas, e tudo… 

 DJ Who: Isso, o Credo na época tinha uma preocupação de provocar isso, que as pessoas pensassem nelas, né, trouxesse uma reflexão da sua existência, e tal, a gente ficava provocando porque tinha a questão da religião, tinha a questão da sua origem, então nós fizemos essas provocações, tanto teóricas, né, dentro das letras, que nós, pela formação familiar, minha mãe influenciou, meu pai influenciou muito a mim ler. O Cassius Franco, o DJ Uzi, também lia muito, né, e pesquisava muito sobre música, quanto à origem dele com o pai, né, que era DJ também de jazz e tal. Então, a gente teve acesso a essas informações e… o mano, lacrimejou aqui, desculpa aí véi, foi inevitável… então vamos lá. Então, as letras tinham essa pegada pra provocar mesmo. E aí também a questão estética, né, de que a gente era influenciado muito, tanto pelo jazz, quanto a música instrumental brasileira, e por essa questão da transgressão, do Malcolm X. A gente ouvia muito Public Enemy na época. O Public Enemy provocou a gente também a dialogar com essas influências. A gente foi buscar os guitarristas de metal, que nem eles gravaram com Slayers, Antrax e tal. E a gente foi atrás do Hélcio Aguirra, finado Hélcio, saudoso, que era do Golpe de Estado, a maior banda metal na época, né, muito amigo do nosso produtor e músico Akira S, né, que também já vinha de outro setor, dos Garotas Que Erraram, que era uma música eletrônica alternativa da época. Teve aí então uma ideia do Gilson Fernandes, que era o produtor do disco, e falou que o Boccato, o instrumentista Boccato, tinha feito as demos com a gente, mas que o disco tinha que ter o Raul de Souza, que era internacionalmente conhecido. O grande Raul de Souza vem de maneira muito generosa e participa das faixas do Credo, o que muita pouca gente sabe. O maior trombonista do mundo na época, pela Down Beat, né, que era uma revista especializada, o Raul de Souza gravou com o Credo, que eram os garotos da periferia lá, que ele achou maravilhoso. E ele dizia: “Hip Hop, sei, sei, eu conheço”. Eu não vou imitar ele aqui, mas também é saudoso. Ele dizia: “Eu sei, eu sei, já conheço, lá em Nova York tem bastante, que bom que está aqui no Brasil”. E fez quatro ou cinco solos sensacionais.  

Daniel Mello: Em relação aos jovens da periferia ocupando espaços na região central, qual foi o papel do Hip Hop nisso? 

DJ Who: Eu acho que fundamental. Junto com punk é o Hip Hop muda o curso da Cultura, né, que era centralizada, branca, burguesa para ser periférica, preta e operária, né? Isso tá muito presente no material que a gente consegue organizar, né, para compartilhar esse conhecimento. Então, aqui mesmo eu vou pegar por exemplo uma das primeiras posses. Posses é o que hoje a juventude chama de coletivos, né? Mas ela tinha um compromisso muito grande com a formação com letramento etnorracial, político. Então, por exemplo, uma das primeiras posses, o protagonista, pelo menos, do livro, o Black, ele diz que vinha de São Bernardo pra cá, só que, devido a muita condução, ele começou a praticar lá. Então, dentro de uma de uma linha de narrativa histórica, você pega a São Bento, a Roosevelt e depois as periferias, porque nesse tempo as posses começam a ficar nos seus próprios territórios. Já existia isso, mas isso fica mais claro, as atividades e tudo. Aliança Negra Posse, na Cidade Tiradentes, a Raússa em São Bernardo, a DRR em São Mateus, Conceito de Rua, no extremo sul, e várias outras né? Não quero ser aqui injusto de não lembrar de todas. Mas aí o Hip Hop espalha, né, pelas periferias, sei lá sem deixar do seu diálogo com o centro. 

Daniel Mello: Em 2016 você lançou junto com Case One um livro que fala um pouco dessa cultura do Hip Hop por outras partes do Brasil, né pelo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia. Conta um pouco isso pra gente. 

DJ Who: Então, quando a gente começa a pensar o Hip Hop, a gente pensa que ele não pode ter Fronteira, se isso já era uma coisa que já vinha, né? Não tinha fronteira e nem só a questão do idioma, né? A gente se identificava com o que era feito na América. Então a gente tem que se identificar com que é feito na cidade do lado, né? E no estado do lado, que inclusive é a origem da grande maioria das pessoas que praticam Hip Hop aqui em São Paulo, né? É tudo filho de imigrante, a maioria 90 e tantos por cento, sei lá quanto. Tem até uma palavra cunhada aí que é Sampa centrismo, né? A gente tinha que deixar de estar exercitando o Sampa centrismo e contemplando a narrativa de origem dos outros estados, como Brasília, que é quase contemporâneo nosso. Só nessa expressão, né, quase, já mostra uma concorrência, né, um bairrismo. Mas é da mesma época. E pelo Nordeste todo e hoje na construção Nacional, a gente fala com o representante de Hip Hop dos quatro, dos cinco elementos, que seja, então, de todos os estados. 

Daniel Mello: Eu que queria frisar um pouco isso, falar um pouco como Hip Hop ajudar a abrir os horizontes e dar oportunidades para a juventude periférica, juventude preta. 

DJ Who: Nosso processo histórico, ele é muito opressor. Tanto a questão das classes, né, do acesso à educação do acesso ao emprego. Então, tudo isso o Hip Hop pode potencializar, criar essa identidade, né? A gente escuta, muito mais na nossa época, da ditadura, mas ainda hoje, todos os deveres que a gente tem mas pouca gente fala dos direitos, né, e da capacidade de você exercer, sua cidadania através dos seus direitos, então o Hip Hop tem esse compromisso de passar para todas as gerações, presente e futura, do potencial delas, da beleza delas, do protagonismo que elas podem ter, acreditando em si, sabendo que elas têm uma origem, sabendo que elas têm ancestrais, né? É uma pergunta que a gente faz sempre, qual que é o seu sobrenome, né? Você tem algum sobrenome? De onde que vem o sobrenome se nós viemos da África, né? Tem algum sobrenome africano, nunca tem né? Então tem um processo histórico importante para a gente entender que é para que a gente consiga nosso protagonismo sem ser oprimido por esse processo histórico da escravização e tudo. 

 Daniel Mello:O próprio Malcolm X, né? 

DJ Who: E o Malcolm X também. O X do Malcolm X, né, ele surge na negativa de herdar o sobrenome ora do estuprador, ora do dono da sua força de trabalho dos seus ancestrais e tal. Então ele colocou o x nesse sentido. Foi muito bem lembrado. 

 Sobe som 🎶 Deus visão cega 

 “Eu firo meus ouvidos ouvindo seus berros 

Que festejam e celebram seus erros redundantes 

Erros esses que corrijo a ferro 

Coisa que eu já deveria ter feito antes 

Mas logo vejo que aqui de erros se foge 

Como foge um louco da realidade de hoje 

Fujo daqui com habilidade 

Saltando pro seu mundo de banalidade 

E acenando hã hã” 

 BG  🎶  

 CRÉDITOS: 

Daniel Mello: Chegamos ao fim do quarto episódio do Podcast: Dos griôs da África para as periferias do mundo: 50 anos de Hip Hop. Uma produção da Radioagência Nacional. 

 A reportagem, entrevistas e narração foram minhas, Daniel Mello. 

A produção foi de Sara Quines. 

Adaptação, edição, roteiro e montagem de Akemi Nitahara. 

A coordenação de processos é da Beatriz Arcoverde 

Sonoplastia: Jaílton Sodré 

Implementação na Web: Beatriz Arcoverde e Lincoln Araújo   

Interpretação em Libras: Jhonatas Narciso 

 Música tema da série: Rappers Delight, de Sugarhill Gang 

 Neste episódio também utilizamos as músicas Deus Visão Cega e O Credo, da banda de mesmo nome, integrantes da coletânea Hip Hop Cultura de Rua. 

 No próximo episódio, o rapper Rincon Sapiência fala de seu trabalho musical e de empoderamento da juventude periférica com o Hip Hop. 

 Sobe som 🎶  

Fonte-Agência Brasil

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