O atacante da seleção argentina Julián Álvarez é lembrado em sua pequena cidade natal, Calchín, de 3 mil habitantes, por ser “gente boa e solidário”, segundo amigos, professoras e familiares, em declarações à AFP.
“Aos sete anos, ele era uma criança muito solidária, muito responsável, estudioso e dado a ajudar seus amiguinhos. Agora é um craque, um grande, ao lado de (Lionel) Messi”, relata Patricia Magnino, uma de suas professoras na pequena escola primária Rivera Indarte.
Outra de suas docentes, Graciela de Barberis, disse que Álvarez “sempre se destacou por sua humildade e por falar pouco”. “Os sonhos se tornam realidade se trabalhar por eles. E a família teve muito a ver”.
Ao redor de ambas educadoras estão os antigos bancos do colégio. São pequenas mesas e cadeiras de fórmica. É um mundo modesto e simples, mas sem pobreza. Calchín, no nordeste da província de Córdoba, está localizada em uma rica região rural e industrial.
Na entrada da cidade, nas paredes e na escolinha há fotografias gigantescas do ídolo, com legendas como “Julián, orgulho calchinense” e aranhas, animal que dá apelido ao jogador, desenhadas em grande tamanho.
A malha urbana é geométrica, cercada de campos de cereais e grãos. Não existe nenhum grande edifício. São todas casas de apenas um andar, delimitadas por ruas de asfalto e árvores de espécies típicas.
“Un gran poder conlleva una gran responsabilidad”.
🖊 Araña 🕷️🤘🏻 pic.twitter.com/yb8vjFO7Vq
— Selección Argentina 🇦🇷 (@Argentina) December 13, 2022
Gols são amores
Apelidado de ‘Aranha’ por sua habilidade de prender a bola e mandá-la para as redes, o atacante de 22 anos tem quatro gols na Copa do Mundo, dois deles na semifinal contra a Croácia, vencida por 3 a 0, outro contra a Polônia nas oitavas, que terminou 2 a 0, e um contra a Austrália nas oitava, 2 a 1.
Seus primeiros passos no futebol se deram no Club Atlético Calchín. O campo tem apenas uma arquibancada de cimento para 150 pessoas. Ao redor são vistos campos cultivados, o céu e a imensidão da fértil pampa úmida argentina, a mais de 800 quilômetros de Buenos Aires.
As cores do clube local, com cinco estrelas conquistadas na liga regional, são iguais às do River Plate, que lançou Álvarez à elite do futebol. Não durou muito tempo na Argentina: meses antes do Mundial, foi negociado com o Manchester City da Inglaterra.
Mas ele sempre pensa no povo da cidade. Há poucos anos, deu de presente a seu primeiro treinador, Rafael Varas, uma caminhonete para ajudá-lo em um de seus vários trabalhos, o de entregador.
“Julián teve um gesto enorme ao me presentear com a caminhonete. Não estava esperando, mas conhecendo a pessoa que ele é, não esperava menos”, comentou Varas recentemente em uma entrevista à TV.
Não se vê ninguém nas ruas. Reina um silêncio bucólico. Assim é a vida na região dos pampas, celeiro mundial de alimentos. Há alguns estabelecimentos pequenos de metalurgia e não muito mais. Na língua nativa, Calchín significa ‘Lugar Salgado’.
Berço do escritor
Uma curiosidade é que já houve um argentino famoso que colocou Calchín no radar internacional: lá nasceu, em 1930, o escritor Héctor Bianciotti, que se radicou na França em 1961 e foi membro da Academia Francesa.
Mas na cidade agora só se fala de futebol. “Julián é um orgulho. Lembro que o ensinei matemática, língua, ciências sociais. Mas seu forte era o esporte, onde brilha. Eu o amo muito”, afirma De Barberis.
A professora conta que brincava com ele dizendo que “os jornalistas viriam procurá-lo para fazer matérias, e ele ficava com vergonha”.
“Ele é o maior embaixador que temos. Nós o vimos crescer. É um exemplo para nossos jovens. E não só por suas qualidades de jogador, mas também como pessoa”, afirma o prefeito de Calchín, Claudio Gorgerino, em seu escritório.
“Dava para ver que era diferente”
Raúl Campoli, padrinho de batismo, afirma: “Aqui todos se conhecem e o futebol sempre foi primordial para Julián. Mas também os estudos. Ele foi porta-bandeira da escola”.
“Como jogador, já dava para ver que era diferente. Fazia gols sempre”, conta o padrinho.
Um de seus amigos e ex-companheiro de equipe, Tomás Romero, de 23 anos, relata que “com Julián tínhamos o ás de espadas. Ele é um herói. Fez muito por nosso povo para que fosse reconhecido no mundo”.
“Mostrava grande habilidade para driblar os adversários e eu o vi fazendo um gol de letra. Deixava todo mundo com a boca aberta”.
E na elite do futebol, outro formador, o técnico Pep Guardiola, concordou vários anos depois com as professoras de Álvarez no primário.
“Com Julián Álvarez não nos equivocamos. Sabíamos que era um garoto fantástico e comprovamos isso”, disse há alguns meses ao site da Fifa o premiado treinador do Manchester City.