O terreiro de candomblé mais antigo do Brasil completou 40 anos de tombamento este ano. Com quase duzentos anos de existência, o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador, foi o primeiro monumento negro do país a ser reconhecido como patrimônio cultural brasileiro pelo Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Na noite desta terça-feira (5), a cidade de São Paulo celebrou esse marco, no Sesc Pompeia, com uma roda de conversa com as principais lideranças do terreiro baiano.
O tombamento da Casa Branca inclui uma área de 6.800 metros quadrados com edificações, árvores e seus principais objetos sagrados, na capital baiana. É um terreiro de tradição nagô conhecido por ser de linhagem matriarcal. Ou seja: quem veste a coroa e comanda a casa é sempre uma mulher.
Aos 79 anos, 54 de iniciada no candomblé, Ekedi Sinha tem como função zelar pelos ensinamentos e cuidados no terreiro da Casa Branca. Para ela, o tombamento garante que a herança africana na cultura brasileira permaneça sendo preservada e transmitida.
“O candomblé da Casa Branca é um lugar de solidariedade e de amor a toda a sua comunidade e comunidade do entorno. Então quando vem o tombamento, vem essa garantia de direito, da gente poder protestar a nossa fé, de continuar mantendo a nossa religiosidade. Apesar do tempo ser outro, pleno século XXI, a gente ainda passar por tanto racismo, tanta intolerância e quando vem essa homenagem, a gente fica muito feliz porque nos dá ânimo para continuar nossa caminhada.”
Segundo a tradição oral, por volta da primeira metade do século XIX, três africanas da nação Nagô fundaram um terreiro de Candomblé em uma roça nos fundos da Igreja da Barroquinha, em pleno centro da capital baiana.
Filho-neto do terreiro da Casa Branca, o babalorisa Alabiy, de 66 anos, é iniciado no candomblé desde os seis anos de idade. Para o sacerdote religioso, o tombamento do local é o símbolo da luta pelo reconhecimento da contribuição do povo de asè na história do país.
“O terreiro da casa branca é a mãe de todas as casas. Ali dentro de Salvador e outras ramificações que vieram para o Rio de Janeiro, para São Paulo. Em Pernambuco já se ouvia os ancestrais. Já se falava do terreiro da Casa Branca”.
O tombamento do terreiro da Casa Branca abriu caminho para que mais 11 terreiros de candomblé no país fossem tombados como patrimônio cultural brasileiro.