No ano passado, a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), a deputada federal Gleisi Hoffmann, afirmou em uma reunião que, se eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conviveria normalmente com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.
O encontro ocorreu em abril, em São Paulo, e foi promovido pelo grupo Esfera. Na época, o PT cogitava lançar Lula como candidato do partido à Presidência da República. Entre os presentes estava Gabriel Galípolo, hoje secretário-executivo do Ministério da Economia, o número 2 da pasta.
Atualmente, Hoffman tem adotado uma postura mais crítica em relação a Campos Neto. A presidente do PT chegou a falar, inclusive, que ele atua contra o Brasil e o governo e considerou a meta de inflação atual como inexequível.
Recentemente, Lula tem travado embate com Campos Neto devido à insatisfação com a manutenção da taxa básica de juros em 13,75% ao ano, o maior patamar dos últimos seis anos. O mandato dele à frente do BC, por sua vez, vai até dezembro de 2024.
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Campos Neto
Na última terça-feira (7), Campos Neto defendeu a autonomia do órgão e afirmou que quer, principalmente, desvencilhar o ciclo de política monetária do ciclo político, porque eles têm “diferentes lentes e interesses”.
“Acho que é muito importante por diferentes razões. A principal razão, no caso da autonomia do BC, é desconectar o ciclo de política monetária do ciclo político, porque eles têm diferentes lentes e diferentes interesses. Quanto mais independente você é, mais efetivo você é, e menos o país vai pagar em termos de custo-benefício da política monetária”, disse.
Segundo Campos Neto, é preciso sempre pensar em melhorar o trabalho, e só criticar o legado anterior é um problema. O presidente do BC usou o exemplo da agenda de inovação, iniciada pelo ex-presidente do órgão Ilan Goldfajn.
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“Ilan está aqui, começou um grande trabalho, falando sobre inovação. Então cheguei lá, a pressão era muito grande, porque ele fez um trabalho maravilhoso, e pensei: ‘Como posso melhorar o que foi feito?’. Um problema que nós temos é sempre criticar o legado. Nós precisamos entender que, quando chegamos a um trabalho, nós precisamos olhar o que pode ser melhorado. Não acho que você se parece melhor criticando o que foi feito.”
Campos Neto pode ser demitido?
O conflito entre o presidente do BC e Lula pode resultar em um pedido de exoneração de Campos Neto com base no artigo 5º da lei complementar 179, que estabeleceu a autonomia do Banco Central. A determinação, porém, dependeria de um aval do Senado Federal.
Conforme a lei, os pedidos de demissão do presidente e de diretores do BC podem ser feitos pelo presidente da República “quando apresentarem comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central”.
Caso a solicitação seja efetivada, caberá ao CMN (Conselho Monetário Nacional) o encaminhamento do pedido de Lula ao Congresso. Lá, a exoneração fica condicionada à prévia aprovação no Senado Federal por maioria absoluta, com adesão de, no mínimo, 41 dos 81 senadores.