Ex-diretor do jornal O Estado de S. Paulo, Fernão Lara Mesquita afirma que a imprensa deixou de produzir reportagens para vender opiniões. “Hoje, faz as pessoas ouvirem o contrário do que foi dito e distorce, na ida e na volta, a conexão entre o país real e o oficial”, observou, em entrevista publicada na Edição 157 da Revista Oeste. Para Mesquita, os remédios capazes de tratar essa enfermidade são “voltar a fazer jornalismo”.
Autor do site Vespeiro, Mesquita sofreu censura dias depois do segundo turno das eleições. Na ocasião, publicou um vídeo em que trata do sistema eleitoral. O blog ficou desativado por semanas, mas voltou a funcionar depois.
Confira alguns trechos da entrevista.
Há uma reação do establishment e da velha mídia contra o surgimento de novos veículos e produtos jornalísticos. Há como resistir a isso?
Depende se você está ou não em uma ditadura. No caso do Brasil, estamos em uma, e que arrebenta, desmonetiza e censura. Hoje, ela é muito mais violenta que a do regime militar. Eu já trabalhava em redação quando vigorava, em tese, a censura. O governo mandava um censor e o colocávamos na oficina. Lá, ele pinçava uma ou outra notícia. Nem todo dia isso acontecia. Agora, “cozinha-se” uma pessoa. Pegam um jornalista, proíbem-no de escrever em qualquer plataforma que alcance o público, tiram dele as possibilidades de remuneração, congelam os seus bens e proíbem-no de acessar as redes sociais. Matam a pessoa. Consegue-se isso em ditaduras com padrões chineses, que é o que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, faz no Brasil. É algo de uma violência que a humanidade nunca experimentou antes.
Faz pouco tempo que o consórcio de imprensa acabou. Qual a sua avaliação sobre ele?
Um pool de veículos para transmitir as mesmas imagens, como em um debate político ou qualquer outro evento, é válido. Agora, acho patético um consórcio alinhado ideologicamente, como o que tivemos aqui no Brasil por dois anos, que disse as mesmas coisas a respeito da pandemia de coronavírus e apoiou automaticamente posições contra um governo, no caso Bolsonaro, e a tudo o que se opunha a ele. Quando eu deixei as redações, há cerca de 20 anos, a imprensa era a instituição mais admirada do Brasil, porque ela fazia seu papel, estava contra o establishment e defendia o rigor ético. Hoje, em termos de avaliação, está com menos credibilidade que o Congresso Nacional.
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