após o fosso, o nascimento de um líder’

Política

(*) por Katia Magalhães

Mal nos recuperamos do impacto provocado pela cassação do deputado Deltan Dallagnol, fruto de um julgamento cuja carência de fundamentos jurídicos válidos tornou a evidenciar a abundância das motivações politiqueiras em nossas cortes superiores, e eis que já deparamos com um “tribunal” oficioso, ávido por condenar o parlamentar defenestrado. Durante a última transmissão do Roda Viva, ontem, pela TV Cultura, testemunhamos um grupo de jornalistas preocupados em torpedear Deltan com perguntas retóricas, por meio das quais buscavam afirmar, ou, pelo menos, insinuar suas próprias verdades, e não obter a versão do entrevistado sobre os fatos perquiridos. Bom jornalismo ou puro proselitismo?

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Antes mesmo da exibição da entrevista, já era de se estranhar que os organizadores do programa não tivessem convidado pelo menos um jurista para a composição da bancada. Ora, tendo Deltan adquirido notoriedade nacional exatamente por sua atuação como operador do Direito, uma voz especializada teria enriquecido o debate, e deslocado a entrevista do terreno dos meros “achismos” para situá-la em um espaço qualificado do contraditório em torno de possíveis controvérsias ligadas à Operação Lava Jato e à recente cassação do mandato. Ainda assim, Deltan aceitou participar do programa e, com uma didática de fazer inveja a muito acadêmico, evidenciou sua lisura no espaço público, desde os tempos da força-tarefa até seu breve período como congressista.

Porém, não há argumentação capaz de aplacar a ira dos senhores das “verdades universais”. Tanto assim que, após a longa explanação inicial de Deltan sobre todas as razões para o descabimento da decisão do TSE, os militantes da bancada, incapazes de acompanhar a lógica do raciocínio do entrevistado, desviaram o foco do que realmente importava, ou seja, suas atividades no combate à corrupção e sua recente cassação. E passaram a “lacrar”!

Nessa toada, choveram indagações referentes ao suposto apoio de Deltan ao ex-presidente da república, e falatórios emocionais recheados de juízos negativos sobre a gestão anterior em áreas como a econômica e a sanitária. No entanto, por mais difícil que seja à compreensão limitada daqueles que só sabem espernear e repetir frases prontas, Deltan não é Bolsonaro, jamais integrou a equipe deste, e, por isso mesmo, não deve explicações a quem quer que seja sobre a administração exercida por outrem, e, muito menos, sobre suas próprias preferências eleitorais.

Mais patético foi o rol de questionamentos sobre imaginárias ilegalidades praticadas nos anos de Curitiba, a começar pelas prisões preventivas, cujo conceito, aliás, os jornalistas demonstraram desconhecer por completo. “Qual foi a prisão preventiva ilegal da Lava Jato?”, retorquiu um Deltan seguro da robustez de seus argumentos, e cônscio de que os então detentos não eram mantidos no cárcere para serem pressionados a firmarem colaborações premiadas, mas como garantia da ordem pública. De fato, tratava-se de criminosos que, a julgar por conversas telefônicas interceptadas, mensagens, e várias outras provas, seriam capazes de coagir testemunhas, eliminar e/ou adulterar documentos, obstruindo, assim, o curso regular dos processos. Como será que, na visão dos românticos jornalistas, poderia ter o então procurador chancelado a colocação em liberdade de indivíduos de tamanha periculosidade?

Também no âmbito das tais “ilegalidades”, chegou a ser curioso ver jornalista intimidando o entrevistado diante das pseudo-provas da “vaza-jato” sobre supostos elos promíscuos entre procuradores e o então juiz Moro. Como bem reafirmado por Deltan, as aludidas mensagens não passavam de provas ilícitas, jamais periciadas, e contrárias à realidade de todo um braço do Ministério Público, composto, inclusive, por eleitores confessos de políticos petistas.

Ainda no âmbito criminal, mas no tocante a eventos atuais, causou embaraço ouvir um jornalista questionar a postura crítica de Deltan sobre as ações penais contra supostos envolvidos nos atos do 8 de janeiro. Ora, um ex-procurador não poderia deixar de insurgir-se diante de petições apresentadas sem a devida descrição dos fatos imputados a cada um dos suspeitos, tecnicamente conhecida como individualização de condutas. E é vergonhoso que um profissional disposto a entrevistar um operador do Direito desconheça princípios básicos do tema a ser debatido!

Sempre no terreno da lacração, uma jornalista, em sua sanha de retratar o entrevistado como autêntico “macho opressor e representante do patriarcado”, tentou constranger o ex-parlamentar Deltan, questionando seu voto contrário à equiparação salarial entre homens e mulheres. No entanto, Deltan deixou bem claro que seu posicionamento não possuía qualquer relação com machismo ou religiosidade, mas com a empregabilidade das mulheres, aliás, bastante comprometida por mais essa medida demagógica do atual governo.

No auge daquele coro estridente de jornalistas, iniciou-se uma discussão sobre um dos argumentos do outrora deputado Deltan contra o PL das Fake News, ou melhor, contra o PL da Censura, segundo o qual o referido projeto, se aprovado, poderia vir a ser obstáculo até mesmo à divulgação de trechos da Bíblia. Com temperança, o entrevistado, longe de sucumbir à intimidação, comprovou em que medida a entrada em vigor dos dispositivos repressivos imporia às plataformas o uso de algoritmos capazes de impedir a disseminação de conteúdos pretensamente ofensivos e lesivos a direitos fundamentais, como, por exemplo, versículos bíblicos alusivos a uma “liderança do homem sobre a mulher no interior do lar”.

Para maior desapontamento de seus entrevistadores, Deltan não teceu juízos sobre esta ou aquela passagem das escrituras. Apenas defendeu o direito de enunciá-las, ou seja, a liberdade irrestrita de manifestação de pensamentos e opiniões, da qual se espera desfrutar em sociedades civilizadas.

Referido por Deltan em seu primeiro discurso pós-cassação, José do Egito, figura proeminente do livro do Gênesis, vivenciou dois grandes percalços em sua trajetória gloriosa. No primeiro, ainda na juventude, foi atirado ao fosso pelos próprios irmãos, que, dominados pela fúria contra José, o incomparável em beleza, em cultura, e em preferência aos olhos do pai, tentaram eliminar o objeto de sua inveja. Anos mais tarde, já em terras estrangeiras, viria a ser preso injustamente pelo suposto estupro de uma mulher da alta sociedade egípcia, que, na verdade, não tolerava a indiferença do rapaz ao seu assédio compulsivo. Da prisão, tida como seu “segundo fosso”, José viria a ser alçado à posição de plenipotenciário de faraó.

Em nossos dias, personagens que despertam a ira alheia, sobretudo por colocarem em xeque estruturas corroídas de poder, sofrem ataques tão violentos quanto os de outrora, embora de modo mais sutil. Afinal, ninguém em sã consciência há de negar a violência inerente a uma cassação parlamentar totalmente arbitrária, ou a tentativas midiáticas covardes de assassinato de reputações.

Os autores dos malfeitos contra José do Egito são lembrados até hoje por suas vilanias, seja pela inveja patológica, seja pelo despeito da concupiscência frustrada. Os oponentes de Deltan, todos eles corruptos notórios e seus séquitos de aduladores, continuam a despertar profundo asco e rejeição em boa parte da população.

Na trilha de retidão do exemplar José, Deltan segue coerente em suas atitudes, mostrando a resiliência e o fôlego próprios àqueles dotados do raro talento de exercerem o poder com sobriedade. Em meio ao caos sistêmico brasileiro, surgiu uma liderança indiscutível.

Fonte-R7

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