(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 18 de janeiro de 2023)
A ministra Marina Silva, escolhida pelo presidente Lula para cuidar do meio ambiente no Brasil, disse na reunião internacional de Davos que há “120 milhões de pessoas” passando fome no Brasil este momento. É uma mentira irresponsável, agressiva e mal-intencionada. A ministra não apenas oferece ao mundo um número falso — é uma contrafação que vai no exato contrário da atual realidade dos fatos. Qualquer dos diversos Ministérios da Verdade que existem ou estão em projeto no Brasil de hoje chamaria isso, aos gritos, de “fake news”; como só se escandalizam com as notícias de que não gostam, essa vai passar batido. Mas não deixa, por isso, de ser uma mentira de primeiro, segundo e terceiro grau.
O Brasil, na carta oficial das ficções da esquerda, tinha até outro dia “33 milhões de pessoas” com fome, um disparate fabricado para uso na campanha eleitoral e desvinculado de qualquer relação com as realidades mais evidentes. A ministra, ao que parece, decidiu que essa cifra não é suficientemente ruim para os seus propósitos; aumentou a desgraça por quatro, de um momento para outro, e tentou mostrar um Brasil em estado terminal de miséria para a plateia de milionários entediados que vai à Suíça uma vez por ano para lamentar os problemas do capitalismo. O que disse não tem pé nem cabeça. Os “120 milhões” de famintos são mais que um número errado — são simplesmente uma estupidez, como seria descrever um homem que tem oito metros de altura ou um cavalo que corre a mil quilômetros por hora.
No mundo das realidades objetivas, o que está acontecendo com o Brasil é o oposto do que disse a ministra. Segundo os últimos dados do Banco Mundial, o Brasil foi o país que mais reduziu a miséria na América Latina em 2020, saindo de um índice de 5,4% da população para 1,9% — o menor de toda a série histórica, iniciada em 1980. Em 2019, de acordo com o Banco Mundial, o Brasil tinha acima de 11 milhões de pessoas vivendo na miséria — ou seja, ganhando até US$ 2,15 dólares, ou pouco acima de R$ 10, por dia. Em 2020, esse número caiu para 4 milhões; em um ano, 7 milhões de brasileiros deixaram a pobreza extrema. Não é uma informação do departamento de propaganda do governo anterior; é número do Banco Mundial, coisa que a esquerda sempre toma como definitiva. Como dizer, então, que há “120 milhões de pessoas” passando fome num país onde menos de 5% da população está abaixo da linha da miséria?
Não existe fome acima da linha da miséria, nem “insegurança alimentar”, como se diz hoje. A ministra Marina mente, apenas, e mente com uma mentira na qual é tecnicamente impossível acreditar. É este o padrão de seriedade dos extremistas que estão na alma do governo Lula.